PRIMEIRO ATO
CENA 1
[Débora entra na sala de aula e senta.
NARRADOR:
Essa é Débora. Estamos a falar de uma garota negra, olhos castanhos e cabelos cacheados. Algo chama a atenção em seu rosto, uma cicatriz enorme que ela tem desde criança, em virtude de um caco de vidro.
Débora vive com sua mãe, Manuela, e sua irmã, Ana Cristina. Sua família não
tem como custear as cirurgias para a reparação de seu rosto, pois são
muito pobres.
Débora é uma menina muito inteligente, e tenciona um dia tirar sua
família da pobreza em que vive. É uma menina cheia de ideais, e não mede
esforços para se dar bem nos seus estudos, pois acredita que assim vencerá com garra e honestidade na vida.
Narrador:
Ao entrar na sala, Débora encontra sua melhor e única amiga da escola, Sofia. As duas se cumprimentam, e a menina então vai para seu
costumeiro lugar de sempre.
Lá, ela escuta sussurros de suas colegas: “Olhaaaa a negrinha desfigurada, de cabelo duro!”, “Será que faltou um creme para melhorar o cabelo? Ela tá com uma péssima aparência!”, “AaAh. Convenhamos, péssima aparência ela sempre teve!”.
Os sussurros só param com a chegada do professor de história, mas Débora como já era de se esperar, se sente incomodada com todos esses
comentários.
O professor chama a atenção de todos os alunos para si.
PROFESSOR:
— Alunos, hoje vamos estudar sobre a segunda guerra mundial. Alguém pode me dizer quem foi Hitler?
Débora se levanta e responde:
Débora:
— Ele foi um político que liderou o bloco alemão durante a Segunda Guerra Mundial.
PROFESSOR:
— Corretíssimo Débora.
Agora você pode me responder o que ele realmente queria na Alemanha?
Narrador:
Um dos alunos, chamado Pedro, fica irritado com essa situação e pensa. ( Negra imunda! Além de ser negra ela pensa que será alguém na vida, faz isso para ganhar a confiança do professor! Mas a mim ela não engana! Vou mostrar a essa negra o lugar dela.)
Narrador:
Enquanto Débora discorre com claresa sobre a segunda guerra mundial, ganhando assim elogios do professor, Um grupo de alunos começa a atirar na garota inúmeras bolinhas de papel. Débora não se defende e nem ao menos fala com o professor sobre o que
está acontecendo.
O professor, Vendo a sena, pergunta aos alunos: — Mas o que é isso!
Qual o motivo de tantas bolinhas? Estão acertando a Débora!
Pedro, o líder do ataque responde: — Ah. Só queríamos descontrair, não é mesmo, gente?
Todos respondem em uníssono: — Sim!
Professor:
— Pois é, mas essa descontração, não permito mais em minhas
aulas. entenderam? essa eu vou deixar passar, mas na próxima, vou deixar
todos vocês de castigo. Não só pelas bolinhas fora de hora, mas por
acertarem uma aluna sem nem um motivo!
Narrador:
A brincadeira passa, e meia hora depois, bate o sinal para o intervalo.
Todos os alunos saem e vão para o refeitório. Débora, é a última a sair
da sala de aulas.
Ao sair, se depara com duas alunas, que
esbarram propositalmente na menina que cai no chão, e em seguida, se levanta e sai chorando para o banheiro.
Já no banheiro, Débora escuta ruídos. Claro que não consegue ver de
quem se trata, até poder ouvir claramente, as vozes de Bianca e Laura,
suas colegas-de classe, as mesmas que a derrubaram propositalmente no
chão, momentos antes.
Nem uma das duas imaginam que Débora está em um dos banheiros, e pior!
nem uma das duas imaginam que ela esteja escutando. Crentes de que estão
sem sua presença, começam a comentar em auto e bom son.
Laura: — Nossa, essa negrinha deveria voltar para a África. Risos
Bianca: — Acho que a África é pouco pra ela, deveria ir pra senzala.
Laura: — Esta escola não é lugar para gente como ela. Podemos fazer um
abaixo assinado e entregar para a diretora para expulsarem-na.
Bianca: — Você acha que vai funcionar?
Laura: — Tem que funcionar. Você percebe que quase ninguém desta escola
gosta dela, e todos eles vão assinar. Essas assinaturas são o
suficiente para tirarmos ela daqui, Você vai ver Bianca, escreve o que
estou te dizendo. Essa negra imunda e desfigurada vai sair daqui!
Narrador:
Ao ouvir essas palavras, Débora chora copiosamente. Em sua cabeça,
milhares de pontos de interrogação se formam e ela se pergunta, como um ser humano pode ser chamado de humano com essas qualidades racistas?
Para ela já era de mais. desde que entrara naquela escola, era frequentemente vítima de racismo pelos demais colegas, e tinha medo de
relatar a sua mãe e aos professores. Eram vários contra um. A palavra de
um contra todos não valia de nada, pensava ela. Também lembrara
que a mãe sempre dizia a ela e a sua irmã. “Meninas, essa vida é
difícil, principalmente para noz negros. Vivemos em um mundo que
não somos tão bem aceitos pela sociedade unicamente pela cor que temos.
Mas, nunca percam a fé em Deus, pois nós assim como eles, independente
da cor, somos filhos de Deus, e ele já mais nos esquece.”
narrador:
— Débora! Débora! Débora! Era Sofia, fazendo-a sair de seus devaneios.
Débora: — Oi Sofia. Como me achou aqui?
Sofia: — Ah, eu ouvi da Bianca que você tinha caído e saído chorando, e
imaginei que você estivesse aqui.
Débora: — Eu não suporto! Você não imagina tudo que ouvi de Bianca e sua amiga!
Sofia: — O que elas disseram?
Narrador:
Débora relata a Sofia, toda a conversa escutada. Esta, fica
revoltada com a situação criada pelas colegas.
Sofia: — Elas não sabiam que você estava ouvindo?
Débora: — Nem desconfiaram.
Sofia: — Essas pessoas não têm jeito mesmo! Vamos falar com os
professores!
Débora: — Não Sofia, eu tenho medo que…
Sofia: — Que eles sejam racistas
também? Se forem, nós os denunciaremos. Você não veio a esse mundo para
sofrer dessa forma amiga. Levanta esse Ânimo e coloca um sorriso na cara
e vamos fazer o que deve ser feito. Débora, racismo é crime e a turma
não sabe o risco que correm fazendo isso com você!
Narrador:
Débora se sente um pouco mais aliviada com a ajuda da amiga, mas não totalmente. Ela tinha esse apoio no colégio, que era Sofia.
A menina gostava de Débora de verdade, e não ligava em abrir mão das
“amizades brancas”, como ela chamava.
Alguns minutos depois, Toca o sino para a última aula.
Todos entram na sala de aula, e Débora continua triste e pensativa pelas coisas que vem acontecendo ultimamente. Acaba a última aula e todos vão embora.
CENA 2
NARRADOR:
Quando chega em casa, Débora sobe para o quarto rapidamente e se tranca, chorando.
Lá ela abre seu computador e resolve gravar um vídeo, com os seguintes dizeres:
Meu nome é Débora Matos, e eu não consigo entender porquê todos me odeiam tanto, mas talvez eu saiba porquê eu me odeio também, e eu não vejo razão para pensar,
falar ou respirar. “Eu cansei!”.
Eu cansei de todos debocharem da minha cor, do meu cabelo, e eu não sei porquê isso incomoda tanto a todos vocês, eu sou um ser humano como vocês, independentemente
da minha cor e do meu cabelo. Mas vocês não se importam com isso, então eu só queria gravar esse vídeo para dizer Adeus.
NARRADOR:
Depois de gravar esse vídeo, Débora consome alta dosagem de remédio. Sua mãe chega em sua porta e começa a bater e chamar pela filha, como ela não obtém
respostas, se desespera, Corre para a cozinha, e pega as cópias da chave. Quando ela entra, se depara com a filha caída no chão e perto, alguns frascos de remédio.
Imediatamente, ela liga para a ambulância.
Ao chegar no hospital, Débora não resiste e acaba falecendo.
Esse vídeo foi postado em suas redes sociais, horas antes de seu falecimento.
Isso nos mostra que o racismo, é muito praticado no nosso país. Muitos não sabem o dano que isso causa a todos que sofrem, isso não nos da o direito de discriminar
qualquer pessoa, seja ela branca, negra, que tenha cabelo duro ou liso, que seja imigrante ou deficiente.
DIGA NÃO AO PRECONCEITO. Devemos ter em mente que o ser humano, antes de possuir uma simples cor de pele, é um ser capaz de sentir, pensar e agir como todos os outros. A história de Débora é fictícia, mas relata a realidade de inúmeras pessoas não só do nosso país, como também do mundo inteiro. Pensemos nisso!
Créditos a Emily Porto por construir comigo essa pequena história!